A história que contaremos

As pessoas não estão mais preocupadas com a verdade; isso faz com que me preocupe cada vez mais com as pessoas. Fico pensando, quando os livros de história resumirem esse período atual, que informações absurdas são tidas como verdades absolutas e imutáveis, se serão hábeis o suficiente para quantificar a imbecilidade humana.


 
A liberdade de expressão, uma conquista da democracia brasileira, tornou-se a trincheira de quem acredita que pode falar ou escrever o que quiser sem ter consequências. Pessoas ou grupos se utilizam do artigo 5º da Constituição como escudo para difundir fake news. O tema se fortifica ainda mais quando a propagação de informações deturpadas e a utilização de contas inautênticas chegam à cúpula do poder.

 

As fake news mobilizam mais que notícias reais

Estudos de universidades Oxford (Reino Unido) e a MIT (EUA) já comprovaram que os usuários se engajam, promovem e viralizam mais fake news do que temas reais. E o pior, boa parte das pessoas sabe que são falsas, mesmo assim compartilham.

 
As notícias falsificadas ou deslocadas estão cada vez mais sofisticadas, revestidas de um “rosto” amigável e bem produzidas, tendo como base conteúdos explosivos e polêmicos. Se utilizam das disputas ideológicas e as assimetrias culturais, sociais e econômicas para se propagar. A pós-verdade impera. Transformam a opinião em verdade. E se discordar, invoca-se a liberdade de expressão.


Os prejuízos da desinformação
A praga da desinformação é brutal e causa prejuízos incalculáveis. Não há, porém, vacina para esse mal. A tentativa de legislar, CPIs pirotécnicas ou de simplesmente usar o sistema Judiciário para conter essa disseminação são caminhos sem saída.

Crise da imprensa

A crise da imprensa aparece como peça importante nesta engrenagem. A perda da credibilidade agrava o cenário pelo incremento do embate político e do radicalismo. Existe um forte movimento que criminaliza e condena a informação, se esta, por óbvio, for contrária as suas próprias convicções.

 
O mercado da comunicação passa por adversidades econômicas, de redefinição dos negócios e o enfraquecimento da mídia tradicional. Sem investimento, o trabalho jornalístico é prejudicado. Com menos recursos humanos, a qualidade do produto desaba, tornando a função jornalística mais rasa e suscetível a erros. 


O trabalho jornalístico tem um custo e a maioria dos cidadãos não tem acesso às informações por não conseguir pagar. As plataformas de checagem dos fatos, que são ótimas opções para certificar a veracidade das informações, não conseguem competir com o fluxo exponencial das fakes news.


Expansão das redes sociais
A expansão das redes sociais potencializou o acesso à informação, é verdade. Trata-se, no entanto, de informação não apurada, um campo fértil, infelizmente, à desinformação.

 
As megacorporações de tecnologia, donas das plataformas, estão no âmago da questão. Algoritmos viciados, sistemas de seguranças falhos, vazamento de dados de usuários, o lucro estratosférico e a falta de investimentos em conter fake news e distorções tornam a missão um trabalho exaustivo. 


A falta de vontade de governos, legislações em descompasso, congressistas andando em círculos e uma justiça parcial complementam as paredes desse labirinto.


Cidadania não é trabalhada dentro das salas de aula
Todavia, há uma porta que se abre lá no fundo, pouco falada, mas fundamental: a educação. Cidadania não é trabalhada dentro das salas de aula. A compreensão dos cidadãos de seus direitos e deveres é muito rasa.

 
A interpretação de texto é outra falha grave no ensino brasileiro. Os alunos saem da escola sem entender redação básica, o que facilita a difusão de notícias enganosas.

 
Barreiras sociais e econômicas impedem a população de acessar informações, mesmo dentro das escolas. Não há incentivo à leitura. Apesar de estar inserida na Base Nacional Curricular Comum Brasileira, a educação midiática ainda é pouca adotada, mas seria o melhor caminho para deter o vírus da desinformação no seu estágio inicial.

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Juliane Korb

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